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Aconteceu em Daytona: saiba mais sobre a histórica vitória brasileira no circuito

Netinho e sua Yamaha TZ 250 brilharam nas 100 Milhas de Daytona de 1983

Crédito: Redação MX1 Motocross Brasil - Maurício Arruda - Fotos: Johanes Duarte / VGCom

Jacinto Sarachu, Netinho e Carlãozinho com a Yamaha TZ 250 da vitória em Daytona

Curiosidades, Variedades | 15/03/2023

Quanto significado uma motocicleta pode ter? Um dia, descobriram que aquela Husqvarna vendida por mil e quinhentos dólares anos antes tinha pertencido a Steve McQueen. Do dia para a noite, ela passou a valer centenas de milhares de dólares. Quais histórias uma caneta pode carregar? Quanto vale aquela que assinou o fim da II Guerra Mundial? As coisas e as pessoas que elas representam têm valor se dermos valor.

+ Pré-estreia: "Aconteceu em Daytona" - vitória histórica do motociclismo nacional

Tem valor se seguirmos contando a história, valorizando os feitos. A Yamaha TZ 250 (cujas fotos ilustram este artigo) foi encontrada pelos irmãos Lupetti, da Old Cycle, perdida em um canto sujo de alguma garagem. Ela é a moto que Antônio Jorge Neto (Netinho) usou para vencer as 100 Milhas de Daytona em 1983 e hoje pertence à Coleção Zaninotto (Remaza Collection). Um dos diamantes mais preciosos da história do motociclismo de competição brasileiro. Não se trata de uma igual, uma réplica. É a própria.



Mas antes de falarmos desta moto tão especial, é preciso falarmos um pouco sobre o fenômeno que foi a criação, produção em escala e venda ao público das TD, TR e, posteriormente, TZ. Imagine, nos dias de hoje, ser possível comprar motos das categorias Moto 3 e Moto 2, desde que você tenha um currículo esportivo comprovado. Se fosse possível, diversos países do mundo poderiam ter campeonatos nacionais e regionais com as mesmas motos das categorias do Mundial. E as TZs não eram caras a ponto de serem proibitivas. Deu para imaginar a revolução que seria? Pois bem, foi o que a Yamaha fez durante mais de 10 anos.

Agora que você já entendeu o nível do impacto que a moto teve naquele período, é preciso explicar o significado do Daytona Bike Week no final dos anos 1970 e início dos 1980.

O evento nasceu em 1937 como uma corrida de motocicletas e foi interrompido em seguida, durante o período da II Guerra Mundial. Retornou em 1947, como uma grande celebração ao esporte, e foi aos poucos se transformando em um grande evento multidisciplinar.



Os anos 1960 e 1970 ficaram marcados pela contracultura, com o crescimento tanto da parte de encontros, festivais de customizações e reuniões de grandes grupos de motociclistas vindos de todo os Estados Unidos e atraindo cada vez mais visitantes do exterior. Também no lado esportivo, Daytona crescia em importância.

Naquela década, passou a ser palco tanto das corridas em circuito, como ovais e supercross. O final dos anos 1970 marcou o início da hegemonia americana no Campeonato Mundial de Velocidade.

Kenny Roberts, já um ídolo em seu país, vai ao Mundial de 500 cc (categoria rainha, equivalente ao MotoGP de hoje) e vence os Europeus em 1978, 1979 e 1980. Se Daytona já estava cada vez mais importante, passou a ter projeção mundial. Como o evento acontece em março, virou data importante na preparação para os mundiais, que começavam em seguida. Os italianos Marco Lucchinelli, em 1981, e Franco Uncini, em 1982, foram os últimos não-americanos a vencer. Depois disso, e por 10 anos seguidos, os americanos ditaram as regras do Mundial. Daytona virou a meca. Vencer aquela prova significava muito. Era a credencial para iniciar uma boa temporada e se mostrar.



Os brasileiros e o mundo olhavam para os Estados Unidos como uma porta para o Mundial de Velocidade. Neste espírito, em 1982, a jovem revelação chamada Netinho já era bicampeão latino-americano e 6 vezes campeão brasileiro de velocidade em diferentes categorias. Com as credenciais de piloto Shell/Yamaha, foi à Daytona pela primeira vez com apoio da Yamaha do Brasil, tendo Masaharu Tanigawa como preparador. Caiu na prova quando estava em quarto lugar brigando pela vitória. Ainda tentou retornar, mas a mão machucada não deixou. Ficou a certeza, posso vencer.

Depois de uma longa negociação com a Yamaha do Brasil, as coisas não frutificaram para voltarem juntos em 1983. "Seo" Jorge, pai de Netinho, falou: "Vamos assim mesmo." O time desta vez era formado pelo pai, o cunhado Pato, Netinho, Jacinto Sarachu como preparador e a coincidente viagem do amigo e jornalista João Mendes, que se juntou à trupe lá em Daytona. O "Exército de Brancaleone" contra a mais poderosa equipe dos Estados Unidos. Mais uma história de Davi vs Golias. Todas as histórias que aconteceram até a acachapante vitória estão sendo contadas no documentário "Aconteceu em Daytona".



Mas algumas coisas precisam ficar registradas aqui. A moto: segundo o próprio Neto, eles tiveram a sorte (currículo) e compraram a mais moderna TZ que era vendida ao público. Melhor ainda, ela era a melhor versão em anos e a menos distante para as motos oficiais. Outro detalhe: mais de 100 motos se inscreveram naquele ano para as 100 Milhas na categoria 250cm³ e "apenas" 70 alinharam para a corrida. A classificação já era uma coisa de louco. Além de tudo, o sistema de tomada de tempo e classificação era diferente do usado no Mundial e no Brasil. Em vez de computar apenas a melhor volta, o sistema tirava a média das 4 melhores voltas para determinar a posição de largada. Mesmo tendo feito o tempo que seria a pole, Neto acabou classificado para largar na 12ª posição.

12 de março de 1983. Ao chegar na pista, Netinho encontrou um Sarachu tenso, preocupado. "Olhe os tanques de combustível, Neto. Todo mundo com tanque maior. Estava fazendo contas. Esta nova moto anda mais, mas bebe mais, também. Acho que com o tanque original não vamos conseguir completar." Corre daqui, pede dali e ninguém, nem que tivesse, cederia um tanque grande para aquele brasileiro que havia feito o melhor tempo no cronometrado. A solução inusitada partiu do cunhado. Pediu o tanque ao Sarachu e correu para o caminhão da Dunlop, onde havia um grande compressor. Com o tanque no colo e todo vedado, injetou ar até que ele estufasse (ou explodisse). Todos em volta saíram correndo, mas o tanque não explodiu e ganhou pouco mais de um litro.



Neto foi o último piloto a alinhar, largando da 12ª posição, recuando para 18º na primeira curva e então primeiro no início da terceira volta. João Mendes disse: "Neto parecia possuído. Ultrapassou todo mundo tão rápido que parecia ser de outra categoria. Enfiou um segundo por volta no americano, venceu com 27 segundos de vantagem e bateu 16 vezes o recorde da pista naquela prova. Parece inacreditável, mas é verdade."

Para manter essa história viva após 40 anos, o documentário "Aconteceu em Daytona" chega às telas com depoimentos inéditos e uma narrativa emocionante sobre uma das mais importantes conquistas da motovelocidade brasileira. A pré estreia aconteceu no domingo - 12 de março de 2023 - quatro décadas após a conquista histórica.



O Cine Orlandi, em Socorro (SP), terá na programação sessões gratuitas essa semana, de 16 a 22 de março, sempre às 16h.

Nascido em Serra Negra, interior paulista, no dia 05 de agosto de 1963 e atual morador da cidade de Campinas, Antonio Jorge Neto (Netinho) deixou mais de 100 mil pessoas caladas em um dos mais emblemáticos circuitos de velocidade mundo. Vencer as 100 Milhas de Daytona nos Estados Unidos era algo impensável para um brasileiro, naquele dia inesquecível, 12 de março de 1983, Netinho não apenas venceu o campeão americano e piloto oficial Yamaha USA com 27 segundos de vantagem, como também bateu 16 vezes o recorde da pista para a categoria 250.

Vídeo:


Serviço

Motostory apresenta o documentário: Aconteceu em Daytona

Onde assistir: Cine Cavaliere Orlandi

Endereço: Rua Campos Sales, 63 - Centro - Socorro - SP

Data: De 16 a 22 de março de 2023 - 16h - Sala 02

Sessão Gratuita

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